20.9.04
Não aconselhável a grávidas com enjoos.
Abençoada gravidez sem vómitos ou enjoos. Se não fosse ela nunca poderia ter devorado estas férias o pequeno livro de crónicas de Luis Fernando Veríssimo, “A mesa voadora”. Um bom garfo adora que partilhem com ele experiências e reflexões sobre comida, receitas (no caso de também gostar de cozinhar, o que parece não ser o caso de Luis Fernando Veríssimo) e restaurantes. Foi por isso que gostei do livro. Porque no seu estilo leve e brincalhão, o autor revela-nos as suas aventuras e angústias ligadas ao prazer da mesa e ainda alguns divertidos “mini-contos” relacionados com o tema. Textos com os quais é quase impossível não nos identificarmos. Por exemplo:
“Não existe nada no sexo comparável a uma gema deixada intacta em cima do arroz depois que a clara foi comida, esperando o momento de prazer supremo quando o garfo romperá a fina membrana que a separa do êxtase e ela se desmanchará, sim, se desmanchará, e o líquido quente e viscoso correrá e se espalhará pelo arroz como as gazelas douradas entre os lírios de Gileade nos cantares de Salomão, sim, e você levará o arroz à boca e o saboreará até o último grão molhado, sim, e depois limpará o prato com pão.”
Descontando o exagero cómico da comparação, quem não conhece a verdadeira emoção de deixar a gema para o fim? E depois há as crónicas sobre restaurantes. Estas são um bocadinho mais difíceis de digerir, pois a vontade de repetir os passos do Fernando Veríssimo é bastante maior do que o nosso salário ao fim do mês. Mesmo assim, vou acrescentar à minha lista de sonhos: um jantar no Frères Troigros (3 estrelas Michelin) e outro no Coup Chou, ambos em França; e ainda outro no Bentley’s, em Londres. Sempre a dois. No mínimo.
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